Se a situação no Congo já é reconhecidamente dramática e milhares de pessoas morrem em Darfur, no Sudão, nesta semana Europa e Estados Unidos se vêem diante de alguns fatos novos (que são novos somente para a cobertura dos jornais mais importantes do mundo): a maior parte da população da Somália pode estar beirando a total inanição; a grave crise de cólera no Zimbábue pode matar milhares de pessoas, principalmente com a chegada das chuvas de verão.
No primeiro caso, é preciso deixar claro que praticamente metade dos somalis depende de programas externos de distribuição de alimentos. Os quase 20 anos de conflitos armados - que faliram o Estado - tornaram difícil a movimentação de organismos de ajuda internacionais, como a Cruz Vermelha.
Numa mostra de desespero absoluto, não lhes resta outra alternativa a não ser comer os animais dos quais tiravam seu sustento, como camelos e bodes. Ou seja, num futuro dramaticamente breve, não restará mais nada ao povo da Somália.
Não deixa de soar tragicamente irônico o fato de o país ter sido alvo de condenação internacional recente por conta dos cerca de 100 seqüestros de navios cometidos em sua região costeira.
Como a África não permite a elaboração de escalas de degradação de toda a sorte (ou azar, no caso), a situação no Zimbábue é igualmente perversa. A falha do sistema de recolhimento de lixo, de saúde e do fornecimento de água provocou uma epidemia de cólera responsável pela morte de, até o momento, 565 pessoas, além de ter infectado outras 13 mil.
O fato, entretanto, ainda é mais complexo porque envolve um amplo debate sobre a corrupção do governo do presidente Robert Mugabe - que se utilizou da crise para culpar as sanções impostas pelos "neo-colonialistas" americanos e europeus.
O absurdo, dentre vários outros, é que a morte de milhares de pessoas pode estar sendo usada como plataforma política para a derrubada de Mugabe. Segundo editorial publicado nesta sexta-feira pelo jornal britânico Daily Telegraph, "existe uma 'tentação' para deixar o governo de Mugabe encarar sozinho as conseqüências de suas loucuras, na esperança de que a epidemia precipite sua queda".
Clique aqui para ler o editorial na íntegra
Numa mesma semana os estrategistas internacionais são capazes de formular duas teorias absolutamente divergentes. De um lado, o combate ao terrorismo só será eficaz na medida em que puder ampliar os benefícios do governo da Índia, por exemplo, à população minoritária muçulmana desassistida pelo progresso econômico do país.
Por outro lado há quem defenda que a deposição de Robert Mugabe deve acontecer a qualquer custo, mesmo que para isso milhares de vidas sejam perdidas durante a epidemia de cólera.
É a teoria do quanto pior, melhor. Mas é completamente despropositado sugerir que mais uma vez a população do Zimbábue pague esta conta.
Ainda pior é o profundo descaso das potências mundiais com as tragédias africanas. O conceito de aparato de Estado está falido, mas sequer existe a intenção por parte dos organismos multilaterais de intervir no que restou desses países.
Em tempo - sempre gosto de ler as opiniões da imprensa local dos Estados sobre os quais escrevo. Mas o jornal The Herald, do Zimbábue, é absolutamente chapa-branca. Não há críticas ao governo, e os editoriais deixam claro que Mugabe não pode ou deve ser contrariado. Para se ter uma idéia, um dos textos opinativos questiona se o presidente-eleito americano, Barack Obama, irá responder ao "ramo de oliveira" estendido pela mensagem oficial de congratulação do governo do Zimbábue.
Em tempo - sempre gosto de ler as opiniões da imprensa local dos Estados sobre os quais escrevo. Mas o jornal The Herald, do Zimbábue, é absolutamente chapa-branca. Não há críticas ao governo, e os editoriais deixam claro que Mugabe não pode ou deve ser contrariado. Para se ter uma idéia, um dos textos opinativos questiona se o presidente-eleito americano, Barack Obama, irá responder ao "ramo de oliveira" estendido pela mensagem oficial de congratulação do governo do Zimbábue.
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