Esta pode ser uma das últimas estratégias de grande impacto costuradas pela atual secretária de Estado, Condolezza Rice. Ela visa a atender, principalmente, aos pedidos de Itália e Alemanha. De certa forma, também representa uma vitória para a Rússia - que aumenta sua auto-estima oficial na medida em que não ofereceu qualquer contrapartida diplomática para voltar a ter a possibilidade de restabelecer os contatos com a rica Europa Ocidental.
Embora a dependência européia dos recursos naturais da Rússia tenha ficado mais uma vez clara, numa tentativa de mostrar certa independência, a OTAN declarou que não abre mão de avaliar as candidaturas de Ucrânia e Geórgia ao organismo multilateral - não é novidade para ninguém que o presidente Medvedev e o primeiro-ministro Putin são absolutamente contrários à participação de países considerados parte de sua "esfera de influência" (seja lá o que isso signifique em pleno século 21) em blocos econômicos ou militares ocidentais.
De qualquer forma, a OTAN optou por uma solução política e conciliatória com os russos. Apesar de se comprometer a avaliar as candidaturas das duas ex-repúblicas soviéticas, é muito pouco provável - para não dizer impossível - que o ingresso dos países na aliança militar ocidental ocorra em breve. O processo costuma ser demorado, ainda mais em casos como esses nos quais há enorme polêmica envolvida.
Para se ter uma idéia, a comissão da OTAN encarregada do caso ucraniano foi estabelecida em 1997. E ainda hoje Kiev aguarda uma resposta sobre quando e se vai fazer parte da organização. Levando-se em consideração que o estudo sobre a possibilidade de ingresso da Geórgia começou em agosto deste ano, fica claro que até Kafka - para citar os vizinhos tchecos - ficaria surpreendido com tamanha lentidão.
Mas o assunto causa grande controvérsia, como não poderia deixar de ser. Como a carta de fundação da aliança - que, diga-se de passagem, completa 60 anos em abril do próximo ano - estabelece defesa irrestrita entre seus membros caso algum deles seja atacado, não falta quem defenda que o ingresso da Ucrânia e principalmente da Geórgia poderia significar um altíssimo risco para a segurança da Europa e do planeta. Afinal, não há garantias de que a Rússia não voltaria a invadir a Ossétia do Sul, o que obrigatoriamente levaria a um confronto de proporções gigantescas envolvendo a Europa Ocidental, Estados Unidos e Rússia.
Em artigo publicado nesta terça-feira no The Moscow Times, o ex-executivo-chefe da Agência de Defesa Européia, Nick Witney, argumenta que, após o fim da União Soviética, a OTAN deixou de ter uma razão clara para existir, mas só se sustenta devido aos conflitos militares e ideológicos que se seguiram entre o final do século 20 e o início deste.
"A OTAN tem mostrado incrível tenacidade. Ela deveria ter desaparecido depois do colapso da URSS e do Pacto de Varsóvia (contraponto militar soviético e, aí sim, dos países que compunham sua esfera de influência à aliança ocidental) porque seu trabalho já havia sido concluído. Mas aí veio a crise nos Balcãs dos anos 1990 que culminaram com a percepção de que somente o poderio militar americano poderia pôr fim à limpeza étnica promovida pelo presidente sérivio, Slobodan Milosevic; em seguida foram os atentados de 11/9 que levaram as tropas da OTAN para o Afeganistão".
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