O Hamas anunciou oficialmente nesta sexta-feira que não vai renovar a trégua de seis meses assinada em junho com Israel. A decisão encerra de maneira melancólica um ano sem qualquer avanço significativo no processo de paz. A partir de agora, ninguém sabe o que pode acontecer à região - naturalmente já repleta de incertezas.
O fim do acordo serve para mostrar que as negociações indiretas entre as partes prejudicam bastante qualquer tentativa de estabelecer metas claras para um tratado mais amplo. A trégua - mediada pelo Egito - não conseguiu corresponder às diferentes - e muitas vezes opostas - expectativas de israelenses e palestinos.
Para o Hamas, os principais objetivos do cessar-fogo eram restabelecer o suprimento de bens de consumo para Gaza - suspenso por Israel e Egito desde que o grupo tomou de forma violenta o controle do território, em junho de 2007 -, além de evitar que os militares israelenses continuassem em busca de seus membros na Cisjordânia envolvidos com o planejamento de ataques terroristas.
Do lado israelense, as expectativas eram completamente distintas: acabar com o lançamento de mísseis de Gaza para as cidades e comunidades do sul de Israel, desmantelar a estrutura de túneis responsável pelo contrabando de armas para as diversas facções palestinas, além de retomar as negociações pela libertação do soldado Gilad Shalit, seqüestrado pelo próprio Hamas em junho de 2006.
Como ambas as partes negam a legitimidade de cada um desses pontos, o cessar-fogo foi simplesmente frustrante. Some-se a isso tudo as acusações mútuas de descumprimento do acordo. A situação hoje já é bastante tensa.
Informações divulgadas pela imprensa local dão conta de que na noite desta quinta-feira nove mísseis foram atirados sobre o sul de Israel. Hoje já foram três. Diante da perspectiva nada animadora, as Forças de Defesa de Israel cancelaram as folgas de sábado das tropas estacionadas ao longo da fronteira com Gaza. Embora a política atual seja a de esperar antes de tomar qualquer decisão, já se comenta que uma ofensiva no território é inevitável.
Mas qualquer passo pode levar a um conflito aberto com o Hamas, o que, de acordo com o jornal Haaretz, não é o desejo das autoridades israelenses no momento.
"Oficiais graduados explicaram que não existem muitas alternativas às operações pontuais que vem sendo conduzidas. Qualquer movimento pode gerar uma 'chuva' de mísseis do Hamas, algo que inevitavelmente levaria a uma guerra total".
Analistas acreditam que Israel deverá evitar ao máximo qualquer revide aos mísseis, uma vez que todos os objetivos do Estado Judeu poderiam ser postos em xeque.
"O risco seria muito alto: a vida de Shalit, a possibilidade de novos mísseis em Ashquelon (uma grande cidade do sul do país) e uma significativa quantidade de baixas entre os soldados", diz o professor Gerald Steinberg, do Departamento de Estudos Políticos da Universidade Bar-Ilan.
Em entrevista à agência de notícias chinesas Xinhua, dois analistas palestinos disseram acreditar que um novo período de violência deve ocorrer em breve.
"Será como uma tempestade antes da bonança. Para conseguir mais um cessar-fogo, será necessária uma outra escalada (de violência). O Hamas não se sente recompensado como acreditava que merecia", diz o jornalista Khaled Abu Toameh.
"Provavelmente, vamos assistir a novas rodadas de violência limitada antes do estabelecimento de uma trégua. Isso deve acontecer num período que pode variar entre alguns dias e algumas semanas", acredita Ghassan Khatib, vice-presidente da Universidade Birzeit.
Apontar erros durante a trégua, além de inútil, é pretensioso. Mas este novo período de tensão deixa evidente a necessidade de um mediador capaz de entender as expectativas das partes. Em meio ao fim do governo de Bush, de Olmert e das óbvias dificuldades do presidente palestino, Mahmoud Abbas, de restabelecer o controle sobre Gaza, todos esperam com ansiedade a posse de Obama.
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