Mais do que simplesmente exercer a liderança moral e logística da convencionada Guerra contra o Terror, os Estados Unidos estão diretamente interessados em frear qualquer possível escalada de violência no sudeste asiático. A presença de grupos extremistas no Paquistão é uma ameaça direta às tropas americanas que combatem o Talibã no vizinho Afeganistão. E, como já escrevi outras vezes, é este o grande alvo estratégico do futuro governo dos Estados Unidos.
Mas agora, com a ligação cada vez mais clara entre os terroristas de Mumbai e membros do alto escalão militar e de inteligência do Paquistão, evitar o acirramento dos ânimos na região é um objetivo no mínimo complicado.
A Índia está convencida da participação direta do grupo terrorista Lashkar-e-Toiba, que em suas fileiras conta com ex-membros das forças armadas paquistanesas profundamente identificados ideologicamente entre si e cujo objetivo é claro: criar um Estado islâmico nas regiões do centro e sul da Ásia. Como desarmar, estabilizar ou desmantelar grupos jihadistas com essas características, é a pergunta que ninguém sabe responder.
A grande questão do momento é estabelecer um limite para a escalada de violência. Afinal, o governo indiano é pressionado pela própria população - insatisfeita não somente com as forças de segurança que não conseguiram evitar os atentados, bem como ansiosas por uma resposta militar ao vizinho paquistão.
Mais do que constituir uma república islâmica em toda a Ásia, converter todos os hinuds, judeus e cristãos, o terrorismo é alimentado pela instabilidade política. Olhando por este aspecto, é possível dizer que os ataques a Mumbai foram bem-sucedidos, na medida em que interromperam as conversações entre indianos e paquistaneses sobre a normalização total das relações entre os dois países. Os diálogos estavam em estágio avançado. Mas aí vieram os atentados e o processo desandou.
Para Arthur Herman, autor do livro Ghandi e Churchill: A Rivalidade Épica que Destruiu um Império e Forjou Nossa Era, dentre as potências ocidentais, somente Estados Unidos e Inglaterra aprenderam a lidar com a ameça terrorista. Ele acredita que os governos devem combatê-la com firmeza e sem concessões.
"Terroristas islâmicos não querem justiça, respeito a suas crenças ou o restabelecimento de uma imaginária terra natal. Eles desejam morte e violência. E é o dever de cada governo prover morte e violência aos extremistas, antes que estes o façam (contra a população civil dos respectivos países)".
E agora Condolezza está no sudeste asiático tentando estabelecer um plano de ação. Pediu calma ao governo indiano, que, por sua vez, já informou a Islamabad que deseja receber 20 suspeitos de terrorismo escondidos em território paquistanês. Num esforço para mostrar controle da situação, o presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari, declarou que os organismos de defesa e justiça do país irão julgar esses suspeitos.
A pressão agora é maior sobre o governo paquistanês. Apesar da retórica positiva, as evidências mostram que o próprio Paquistão sofre com terrorismo e principalmente caos interno. Num período de 16 meses, 1.500 pessoas foram mortas em atentados suicidas cometidos pela al-Qaeda.
2 comentários:
Muito bom! Um ponto interessante que tenho visto nessa cobertura é que estão começando a tratar o terrorismo como um movimento global e não local. Está se criando uma identificação entre o terrorista que ataca na India, Israel, EUA e espanha e não mais, como movimentos independentes que usam o terror como meio de divulgação de sua ideologia específica. Considero isso muito importante para um combate eficiente ao terror.
Que bom que você gostou, Paulo. Como conversei por e-mail com o Bruno Moreno, leitor do blog, o terrorismo se democratizou e, com isso, perdeu em parte uma suposta aura ideológica que atraía simpatizantes do ocidente.
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