Em relação aos ataques recentes, não há necessidade do estabelecimento de uma comissão como a que investigou o 11/9 nos EUA para notar o patente descaso das autoridades indianas com os sinais mais do que evidentes de que algo grande e trágico estava prestes a acontecer.
Cerca de uma hora antes do início da troca de tiros em Mumbai, moradores de um vilarejo do sul da região relataram ter visto um grupo de dez pessoas estranhas à comunidade atracando no continente a bordo de um bote inflável. A polícia local foi informada do ocorrido, mas nada fez a respeito.
Mais ainda, há quatro meses o setor de inteligência do país vinha recebendo a informação de que muito provavelmente parte dos quase mil barcos que cruzam Guajarat e Mumbai poderia estar contrabandeando munição e explosivos para a cidade. O responsável pela segurança portuária disse, na semana passada, que o aviso se tratava somente de "informação genérica".
A burocracia e falta de comunicação entre as unidades de segurança da Índia tornam o país alvo fácil para qualquer ataque. Não por acaso inúmeros atentados terroristas ocorreram nas principais cidades e provavelmente a recente onda de violência em Mumbai não será a última.
No lado muçulmano da questão, o Paquistão continua a negar qualquer envolvimento com os acontecimentos de Mumbai. Pode ser realmente que o Estado não tenha nada a ver com isso mesmo. Até porque o país está falido, e o governo, em muitas regiões, simplesmente não existe. A situação é tão crítica que, recentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) teve de emprestar 7,6 bilhões de dólares para estabilizar a frágil economia paquistanesa.
A miséria acaba por se tornar uma poderosa aliada do fundamentalismo. Na ausência de educação formal em regiões tribais, os pais se vêem cooptados a mandar seus filhos para escolas corânicas administradas por organizações extremistas. Assim, toda uma geração está recebendo uma profunda educação religiosa e jihadista. Além disso, nessas mesmas escolas, os jovens também recebem treinamento militar.
Com um poderoso orçamento, o Serviço de Inteligência do Paquistão (ISI) tomou para si parte dessa região, a poucas horas da fronteira com o Afeganistão. De fato, a ISI atua de forma independente e profundamente ideologizada.
Em meio a este caos, um arsenal nuclear está escondido em algum lugar entre Karachi e Lahore. Pior: ninguém sabe a cargo de quem ele está confiado.
Autoria dos ataques
Por outro lado, está cada vez mais difícil descobrir os reais autores dos atentados. Segundo o jornal britânico Sunday Times, as autoridades indianas conseguiram gravar telefonemas entre os terroristas e pessoal alocado no Paquistão.
O único autor dos ataques preso é paquistanês. Fica agora a dúvida quanto as demandas do grupo para a realizar a ação.
Uma teoria recente e defendida por Paul Cornish - representante do Programa Internacional de Segurança do Real Instituto de Relações Internacionais de Londres - é ainda mais mórbida. Para ele, é possível que a ação não tenha nenhuma carga ideológica, mas que tenha sido realizada em busca apenas de fama e maciça cobertura da mídia mundial. Se esse era o objetivo, sem dúvida ele foi atingido.
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