segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

As diferentes incompetências dos governos de Índia e Paquistão

A chave para compreender os atentados na Índia pode ser mesmo o Paquistão. Talvez não o governo oficial de Islamabad, como escrevi no último post, mas a própria incompetência do Estado. Aliás, talvez esse seja um caminho capaz de explicar as tragédias que hoje unem os dois países do subcontinente indiano. 

Em relação aos ataques recentes, não há necessidade do estabelecimento de uma comissão como a que investigou o 11/9 nos EUA para notar o patente descaso das autoridades indianas com os sinais mais do que evidentes de que algo grande e trágico estava prestes a acontecer. 

Cerca de uma hora antes do início da troca de tiros em Mumbai, moradores de um vilarejo do sul da região relataram ter visto um grupo de dez pessoas estranhas à comunidade atracando no continente a bordo de um bote inflável. A polícia local foi informada do ocorrido, mas nada fez a respeito. 

Mais ainda, há quatro meses o setor de inteligência do país vinha recebendo a informação de que muito provavelmente parte dos quase mil barcos que cruzam Guajarat e Mumbai poderia estar contrabandeando munição e explosivos para a cidade. O responsável pela segurança portuária disse, na semana passada, que o aviso se tratava somente de "informação genérica". 

A burocracia e falta de comunicação entre as unidades de segurança da Índia tornam o país alvo fácil para qualquer ataque. Não por acaso inúmeros atentados terroristas ocorreram nas principais cidades e provavelmente a recente onda de violência em Mumbai não será a última. 

No lado muçulmano da questão, o Paquistão continua a negar qualquer envolvimento com os acontecimentos de  Mumbai. Pode ser realmente que o Estado não tenha nada a ver com isso mesmo. Até porque o país está falido, e o governo, em muitas regiões, simplesmente não existe. A situação é tão crítica que, recentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) teve de emprestar 7,6 bilhões de dólares para estabilizar a frágil economia paquistanesa. 

A miséria acaba por se tornar uma poderosa aliada do fundamentalismo. Na ausência de educação formal em regiões tribais, os pais se vêem cooptados a mandar seus filhos para escolas corânicas administradas por organizações extremistas. Assim, toda uma geração está recebendo uma profunda educação religiosa e jihadista. Além disso, nessas mesmas escolas, os jovens também recebem treinamento militar. 

Com um poderoso orçamento, o Serviço de Inteligência do Paquistão (ISI) tomou para si parte dessa região, a poucas horas da fronteira com o Afeganistão. De fato, a ISI atua de forma independente e profundamente ideologizada. 

Em meio a este caos, um arsenal nuclear está escondido em algum lugar entre Karachi e Lahore. Pior: ninguém sabe a cargo de quem ele está confiado. 

Autoria dos ataques

Por outro lado, está cada vez mais difícil descobrir os reais autores dos atentados. Segundo o jornal britânico Sunday Times, as autoridades indianas conseguiram gravar telefonemas entre os terroristas e pessoal alocado no Paquistão. 

O único autor dos ataques preso é paquistanês. Fica agora a dúvida quanto as demandas do grupo para a realizar a ação. 

Uma teoria recente e defendida por Paul Cornish - representante do Programa Internacional de Segurança do Real Instituto de Relações Internacionais de Londres - é ainda mais mórbida. Para ele, é possível que a ação não tenha nenhuma carga ideológica, mas que tenha sido realizada em busca apenas de fama e maciça cobertura da mídia mundial. Se esse era o objetivo, sem dúvida ele foi atingido. 

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