Terminou nesta quarta-feira, na Costa do Sauípe, a Primeira Cúpula da América Latina e do Caribe. No encontro entre os 33 países, nada de muito importante foi decidido. A reunião, no entanto, deixa claro algo que talvez seja muito mais relevante politicamente do que qualquer acordo de cooperação: o isolamento dos Estados Unidos na região que já foi chamada de "quintal" por sucessivos governos de Washington.
Os simbolismos não páram por aí. Além de o presidente Bush sequer ter sido convidado para estar na Bahia, Raúl Castro, substituto de Fidel na presidência cubana, foi homenageado em Sauípe. Vale dizer que Cuba não irá participar da Cúpula das Américas que será realizada em abril do ano que vem, em Trinidad e Tobago, e que, aí sim, contará com as presenças de EUA e Canadá.
Na prática, além desses sinais subliminares - mas nem tão subliminares assim, é bem verdade -, a política externa de Bush para a América Latina foi praticamente nula durante esses oito anos de mandato. Por conta de todas as mudanças de prioridade interna americanas, pela mudança do foco em direção às plataformas de segurança e também pelas sucessivas guinadas à esquerda da América do Sul.
Basta fazer um exercício de memória. A implantação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) - que gerou muita polêmica por aqui -, prevista para entrar em vigor em 1 de janeiro de 2005, simplesmente foi abandonada. Em seu lugar, os novos líderes políticos sul-americanos optaram pela criação de uma série de novos organismos multilaterais. No caso específico do Brasil, o presidente Lula não esconde seu desejo de fortalecer o Mercosul.
Aliás, Lula é visto internacionalmente como um dos principais personagens dessa mudança de postura em relação aos Estados Unidos. Principalmente por causa dos indiscutíveis avanços econômicos de seu governo.
Desde sua eleição, em 2002, o Brasil conseguiu acumular mais de 200 bilhões de dólares em reservas externas. Para ter idéia do significado desta cifra, o valor corresponde a quase o total das reservas de todos os demais países latino-americanos juntos. A partir desses pré-requisitos, o Brasil passou a exigir um papel mais significativo nas relações internacionais.
Entretanto, ao mesmo tempo em que a liderança brasileira na América Latina torna o continente cada vez mais independente dos EUA, a Casa Branca não necessariamente vê com maus olhos o papel central ocupado pelo presidente Lula.
"Sem chamar muita atenção, ele acabou com algumas ambições do presidente venezuelano na América do Sul e se tornou um importante contrapeso aos olhos dos encarregados da política externa norte-americana. Lula minou o sonho de Chávez de construir um gasoduto de dez mil quilômetros entre Brasil e Venezuela e, além disso, não se empenhou na criação do Banco do Sul, que se seria uma alternativa ao Banco Mundial", escreveu no Seattle Times o jornalista Tyler Bridges.
O futuro presidente norte-americano, Barack Obama, vai precisar de muito trabalho se de fato pretender mudar esta situação. Porém, a maturidade dos países latino-americanos em sua relação com o "irmão do norte" parece ser um processo irreversível.
"Os Estados Unidos já não são o maior interlocutor dos países da região. E nunca vão voltar a ser", diz Riordan Roett, diretor do Programa de Estudos Latino-americanos da Universidade John Hopkins.
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