E a reviravolta aconteceu quando tudo parecia finalmente acertado. No ano passado, o líder Kim Jong-il havia concordado em desmantelar seu arsenal nuclear em troca de um pacote envolvendo ajuda externa. Estados Unidos, China, Rússia, Coréia do Sul e Japão forneceriam combustível, enquanto a Coréia do Norte se desarmaria progressivamente.
O processo ficou conhecido como a Negociação dos Seis Lados e vinha se arrastando lentamente desde 2003. Em 2006, mesmo após Pyongyang realizar testes nucleares em segredo, as conversações continuaram. Os Estados Unidos, inclusive, deslocaram um negociador especial para cuidar do assunto - Christopher Hill - que nesse período viajou dezenas de vezes para Seul, Pyongyang, Tóquio e Beijing.
Mas, nesta semana, todos os esforços parecem ter ido por água abaixo. Os norte-coreanos informaram que não concordam com os procedimentos de verificação de seu programa nuclear. O argumento é que o combinado era permitir a inspeção dos principais complexos atômicos de Yongbyon, mas não o recolhimento de amostras de terra e ar nos arredores das instalações para serem examinadas no exterior.
A grande confusão jurídica por parte dos Estados Unidos é que, como a decisão de retirar a Coréia do Norte da lista do terror foi tomada há dois meses, Sean McCormack, porta-voz do Departamento de Estado, explica que não existe qualquer previsão de quando ou se, de fato, o país seria novamente incluído entre aqueles que patrocinam o terrorismo.
Até porque seria um tremendo atestado de incompetência - mesmo que nada disso tenha ocorrido por um erro de abordagem - voltar atrás no anúncio de que a Coréia do Norte havia sido convencida de se aliar ao eixo do mal, como ficaram conhecidos os Estados acusados - e muitas vezes assumidos mesmo - de figurar, admirar, fornecer armamento ou manter programas para o desenvolvimento de armas de destruição em massa, além de dar abrigo a terroristas.
No caso da Coréia do Norte, a complicação é ainda maior. Além do país asiático, Cuba, Irã, Síria e Sudão aparecem dentre aqueles Estados considerados pelo EUA como "foras-da-lei". O problema específico do regime de Pyongyang é seu isolamento do resto do planeta. Raros cidadãos podem deixar e retornar para suas fronteiras, não há imprensa além da estatal e, menos ainda, liberdade de expressão ou acesso à internet. Os norte-coreanos são governados por mão-de-ferro pelo tresloucado Kim Jong-il, ridicularizado pelo ocidente, mas profundamente hábil do ponto de vista político.
Tanto que o nó tático dado por ele nos Estados Unidos hoje já havia sido antecipado pelo escritor Michael Breen, autor do livro Kim Jong-il: Ditador Norte-coreano. Em entrevista à AFP, em julho de 2006, ele deu a seguinte opinião sobre o processo de desarmamento do país.
"Eu não acho que ele (Kim Jong-il) esteja disposto a abandonar seu arsenal atômico. Isto o obrigaria a confiar nos Estados Unidos e na Coréia do Sul", disse.
Hoje mesmo foram liberadas fotografias de Kim Jong-il em bom estado de saúde, embora ninguém saiba afirmar a data precisa de quando elas foram tiradas. É mais uma tentativa de desmentir as especulações sobre a substituição do líder máximo da Coréia do Norte. Entretanto, é possível que o regime se torne ainda mais fechado neste caso.
"Provavelmente uma junta militar linha dura assumiria o poder. E, para piorar, contando com um arsenal atômico. Será que eles levariam adiante as táticas de chantagem do atual comandante? Ou decidiriam pôr fogo no planeta?", questiona o site de política Real Clear World.
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