A semana começou com a preocupante expectativa de as forças militares indianas realizarem um ataque ao vizinho Paquistão, acusado de abrigar o grupo terrorista Lashkar-e-Toiba - principal suspeito de realizar os atentados de Mumbai, em 26 de novembro.
A rede de televisão CNN divulgou na última segunda-feira que fontes do Departamento de Defesa dos Estados Unidos tinham informações de que a Força Aérea da Índia estava em alerta máximo e já iniciara os preparativos para desmantelar à revelia a infra-estrutura do LeT.
Hoje, porém, o ministro de defesa indiano, A.K. Antony, desmentiu os boatos. Ao mesmo tempo, condicionou a normalização das relações com Islamabad a uma firme resposta do governo paquistanês aos terroristas que circulam livremente pelo território - muitos grupos contam com a simpatia e, inclusive, efetiva participação de oficiais do serviço de inteligência do país.
Simultanemente a isso, o presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari, adota um discurso ambígüo. Se por um lado ele promete aos Estados Unidos, à Grã-Bretanha e à própria Índia reforçar o combate aos grupos extremistas, em entrevista à rede britânica BBC, questionou se os autores dos ataques eram mesmo de seu país e revelou que só vai tomar providências quando houver provas conclusivas sobre o envolvimento de paquistaneses nos atentados.
"Se chegarmos a esse estágio, garanto que nosso parlamento e nossa democracia vão agir de maneira apropriada e baseada nos preceitos de nossas leis e constituição", disse.
O discurso visa a agradar ao ocidente, até porque lança mão de conceitos considerados fundamentais para a administração Bush - citar democracia e respeito às leis numa região onde isso é raridade pode funcionar por ora.
O problema é que não é segredo o quanto o governo central de Islamabad é incapaz de controlar todo o vasto território do país, em muitas áreas dominados pelos próprios grupos terroristas e facções jihadistas apoiadas pelas fundamentalistas escolas corânicas.
Ao que parece, o governo indiano está a ponto de tomar uma atitude independente de qualquer autorização ocidental. De fato, qual seria o argumento para impedir esse primeiro e possível passo do governo de Nova Déli? Afinal, os próprios Estados Unidos e Grã-Bretanha admitem que o Lashkar-e-Toiba foi o autor dos atentados.
Dessa maneira, a Índia estaria respaldada duas vezes para acionar suas forças militares: por conta do discurso adotado pela secretária de Estado Condolezza Rice e pelo primeiro-ministro Gordon Brown quando visitaram recentemente o sudeste asiático; e pela própria invasão ao Afeganistão empreendida por EUA e Inglaterra, em 2001. Afinal, há sete anos, o objetivo dos dois países era o mesmo sustentado pelo governo indiano de hoje: desmantelar a infra-estrutura terrorista por trás de um injustificável atentado.
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