Os anarquistas estão recebendo boa parte do crédito pelos protestos que acontecem na Grécia desde que um jovem de 15 anos foi morto pela polícia, em 6 de dezembro. A revolta popular no país é repleta de novidade, tanto por seus autores, quanto pelos inúmeros motivos que eles argumentam ter para espalhar o caos que já começa a afetar outros países da Europa.
Num mundo contemporâneo repleto de religião, ideologia e organizações terroristas cheias de disciplina, na virada para 2009 a Grécia nos apresenta a classe média em fúria e disposta a brigar - dentre outras coisas - pelo conceito de "vida boa". Que fique claro, no entanto, o termo é o melhor encontrado para destacar que a juventude grega luta hoje para ter acesso ao que considera justo: melhores salários e oportunidades de emprego.
O epicentro das manifestações é a Universidade Politécnica de Atenas, uma das principais instituições de ensino do país que forma engenheiros e arquitetos desde 1836. Uma lei assinada após o término de um protesto estudantil em 1973 impede que a polícia entre na universidade, a não ser que tenha sido convocada pelos próprios estudantes.
Por isso, o local se transformou no abrigo perfeito para o planejamento das ações. E, apesar de intenso e recente, já existe uma explicação teórica para toda esta confusão.
Apesar de ser um dos Estados fundadores da União Européia e de apresentar taxa de desemprego dentro dos padrões do bloco (7,5%), a juventude grega está profundamente à margem dos benefícios econômicos.
Cerca de um quarto da população com até 29 anos de idade está desempregada. Os economistas passaram a chamar essa parcela de Geração 700 Euros, em alusão ao salário médio que recebem. A quantia é mesmo baixa, ainda mais quando se leva em consideração que 21% dos gregos têm diploma universitário. E esse é um dos problemas.
Apesar da alta qualificação, o acesso ao mercado de trabalho tem sido difícil para os egressos das faculdades. Num ciclo vicioso bastante conhecido por aqui no Brasil, eles acabam tendo de se sujeitar a empregos fora de suas preferências profissionais; funções que pagam pouco, mas exigem muito. E agora, diante deste senso de injustiça, os jovens tomaram as ruas dispostos a chamar a atenção das autoridades do país para a situação que está longe de poder ser solucionada com simplicidade.
Hoje, com a crise financeira mundial transformada em realidade e seus prejuízos socializados principalmente entre aqueles que nada tem a ver com suas causas, existe o real temor de que mais violência esteja a caminho.
A prestigiada revista Time publica nesta terça-feira uma reportagem que considera a possibilidade de as revoltas se espalharem para a França. Um dos entrevistados é o ex-primeiro-ministro francês Laurent Fabius.
"Quando existe depressão econômica e desespero social, basta uma faísca", disse.
Ao mesmo tempo, reformas no setor de educação causam grande controvérsia no país. Neste ano, pouco mais de 11 mil empregos na área foram cortados e outros 13 mil postos de trabalho estão sob ameaça para o ano de 2009.
O líder estudantil Alix Nicolet resume o que pode ser a próxima "faísca":
"Como o governo pode argumentar não ter dinheiro para manter a educação pública ao mesmo tempo em que doa bilhões para salvar bancos e grupos financeiros?".
Vale lembrar
Não faz muito tempo que um país europeu é tomado pela violência após o assassinato de jovens em protestos. Numa situação muito parecida, o italiano Carlo Giuliani, de 23 anos, morreu depois de ser atingido por policiais numa passeata anti-globalização, em julho de 2001, durante a Cúpula do G8 realizada em Gênova, na Itália.
Nenhum comentário:
Postar um comentário