É possível interpretar a tragédia no Paquistão de duas maneiras: ela pode piorar ainda mais a situação do país ou realinhar suas políticas internas. Seguramente, é claro que nenhum dos dois caminhos vai ser fácil. É nos bastidores desta luta que se engalfinham alguns dos muitos interesses internacionais no território.
As estimativas sobre o impacto das chuvas são devastadoras: aproximadamente 16 milhões de pessoas – quase 10% da população – foram atingidas e estão em estágio de necessidade extrema. O tamanho do estrago é proporcional à importância de uma região que se tornou vital no jogo de poder dos dias de hoje.
O governo central em Islamabad é fraco. Este é um fato bem anterior às catástrofes naturais, mas que tornou tudo muito pior. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que a raiz do problema é tão profunda que, agora, falta água potável. Se Islamabad não tivesse desviado os bilhões de dólares de ajuda americana que têm chegado desde a invasão ao Afeganistão, em 2001, a situação poderia ter sido contornada.
Nunca é demais lembrar que os discursos políticos, a atuação das ISI (as poderosas e ambíguas forças de segurança paquistanesas) e as articulações militares só têm olhos para a Índia. Não interessa a percepção internacional, os ataques de grupos radicais islâmicos em Lahore ou Karashi. A Índia é obsessão nacional. Por conta disso, bilhões de dólares destinados a treinamento, compra de armas e fortalecimento da sociedade civil foram desviados. Parte desta quantia poderia também ter sido usada na construção de represas, hidrelétricas e criação de estrutura que certamente ajudaria em momentos como o de agora.
A disputa pela água já é uma realidade na região. A nascente do rio Indus, que abastece toda a agricultura paquistanesa, encontra-se na Índia. O Paquistão teme que a possibilidade de os indianos manipularem a água se torne um impedimento para o crescimento de sua economia. Este não é um temor infundado. Nova Déli busca um papel ainda mais relevante na economia global e regional. Contar com este recurso representa uma vantagem capaz de alterar o equilíbrio de forças no sudeste asiático. Por si só, já é um tremendo argumento para os nacionalistas paquistaneses.
É neste cenário que as enchentes acabaram por inundar o ambiente de mais tensão. Mas o desafio de evitar que Islamabad decida partir para nova guerra contra os vizinhos pode ser uma esperança de mudança. Com o país em estado caótico, os EUA definitivamente se estabeleceram no papel de maiores doadores. Curiosamente, já era assim. Mas, mesmo diante dos números da grande ajuda econômica, pesquisa do Pew Research Centre mostra que 59% dos paquistaneses veem os americanos como seus maiores inimigos.
O caos instalado no Paquistão não desperta a gana apenas de Washington. Austrália, Arábia Saudita, Grã-Bretanha e Canadá correm para entregar ajuda. Todos sabem a importância de garantir presença por lá. Isso porque grupos como Jamaat-ud-Dawa, considerado pela ONU como terrorista, têm trabalhado no fornecimento de ajuda humanitária aos sobreviventes da tragédia. Este é o primeiro passo para reivindicar posicionamento político nos rumos de um país em frangalhos. O resultado deste tipo de atuação no Líbano e nos territórios palestinos mostra como isso termina. É por isso que as potências ocidentais estão correndo para serem percebidas como as principais agentes de ajuda.
As estimativas sobre o impacto das chuvas são devastadoras: aproximadamente 16 milhões de pessoas – quase 10% da população – foram atingidas e estão em estágio de necessidade extrema. O tamanho do estrago é proporcional à importância de uma região que se tornou vital no jogo de poder dos dias de hoje.
O governo central em Islamabad é fraco. Este é um fato bem anterior às catástrofes naturais, mas que tornou tudo muito pior. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que a raiz do problema é tão profunda que, agora, falta água potável. Se Islamabad não tivesse desviado os bilhões de dólares de ajuda americana que têm chegado desde a invasão ao Afeganistão, em 2001, a situação poderia ter sido contornada.
Nunca é demais lembrar que os discursos políticos, a atuação das ISI (as poderosas e ambíguas forças de segurança paquistanesas) e as articulações militares só têm olhos para a Índia. Não interessa a percepção internacional, os ataques de grupos radicais islâmicos em Lahore ou Karashi. A Índia é obsessão nacional. Por conta disso, bilhões de dólares destinados a treinamento, compra de armas e fortalecimento da sociedade civil foram desviados. Parte desta quantia poderia também ter sido usada na construção de represas, hidrelétricas e criação de estrutura que certamente ajudaria em momentos como o de agora.
A disputa pela água já é uma realidade na região. A nascente do rio Indus, que abastece toda a agricultura paquistanesa, encontra-se na Índia. O Paquistão teme que a possibilidade de os indianos manipularem a água se torne um impedimento para o crescimento de sua economia. Este não é um temor infundado. Nova Déli busca um papel ainda mais relevante na economia global e regional. Contar com este recurso representa uma vantagem capaz de alterar o equilíbrio de forças no sudeste asiático. Por si só, já é um tremendo argumento para os nacionalistas paquistaneses.
É neste cenário que as enchentes acabaram por inundar o ambiente de mais tensão. Mas o desafio de evitar que Islamabad decida partir para nova guerra contra os vizinhos pode ser uma esperança de mudança. Com o país em estado caótico, os EUA definitivamente se estabeleceram no papel de maiores doadores. Curiosamente, já era assim. Mas, mesmo diante dos números da grande ajuda econômica, pesquisa do Pew Research Centre mostra que 59% dos paquistaneses veem os americanos como seus maiores inimigos.
O caos instalado no Paquistão não desperta a gana apenas de Washington. Austrália, Arábia Saudita, Grã-Bretanha e Canadá correm para entregar ajuda. Todos sabem a importância de garantir presença por lá. Isso porque grupos como Jamaat-ud-Dawa, considerado pela ONU como terrorista, têm trabalhado no fornecimento de ajuda humanitária aos sobreviventes da tragédia. Este é o primeiro passo para reivindicar posicionamento político nos rumos de um país em frangalhos. O resultado deste tipo de atuação no Líbano e nos territórios palestinos mostra como isso termina. É por isso que as potências ocidentais estão correndo para serem percebidas como as principais agentes de ajuda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário