terça-feira, 24 de agosto de 2010

Irã desafia EUA em território onde americanos despejam grande ajuda financeira

Às vésperas da retomada das negociações de paz, o Oriente Médio continua a assistir à formação de novas alianças de poder. Mais ainda, existe uma corrida – muitas vezes, ruidosa – por poder e influência. Em busca de prestígio ainda maior na região, o Irã tem desafiado os Estados Unidos ao flertar com o Paquistão, importante aliado americano na luta contra o Talibã.

As enchentes que causaram estragos no país acabaram por fornecer uma oportunidade para a atuação de Ahmadinejad. Além de enviar contêineres de ajuda, o presidente iraniano anunciou nesta terça-feira sua intenção de visitar os pontos mais devastados. Formado majoritariamente por população sunita (75%), o Paquistão é alvo da ambição iraniana pela influência que exerce no Afeganistão e, claro, pelo fato de o governo de Islamabad estar alinhado a Washington.

Mas Ahmadinejad sabe que há um nicho de mercado importante: apesar do grande despejo de ajuda econômica dos EUA no território, os paquistaneses são um dos povos mais antiamericanos do mundo. O líder iraniano não apenas pretende se confirmar como um ícone de resistência aos EUA, como projeta interferir nas decisões paquistanesas de baixo para cima. A presença ostensiva de Irã no país pode provocar ainda mais manifestações contra o governo central por sua relação com Washington.

Assim, muito além de propaganda, Teerã tem adotado um posicionamento prático. A TV estatal iraniana anunciou que o projeto do gasoduto ligando o Irã ao Paquistão está completo. São 907 quilômetros de dutos construídos ao custo total de 7,5 bilhões de dólares. Coincidência ou não, a cifra corresponde ao mesmo valor previsto pela lei americana conhecida como Kerry-Lugar. Aprovada pelo congresso dos EUA, ela contempla assistência ao país asiático para a construção de represas, usinas hidrelétricas e hospitais.

As medidas iranianas procuram enviar ao mundo – e aos EUA, principalmente – mensagens distintas: a primeira delas é reafirmar que o Irã continua a manter suas ambições regionais mesmo na vigência das sanções; a segunda é complicar as ambições regionais americanas e desafiar a Casa Branca em territórios que a administração Obama julga como de sua responsabilidade.

Todo o desfile militar recente promovido por Teerã segue a mesma lógica. Aviões não tripulados, quatro novos mini-submarinos, a possibilidade do envio do sistema antimísseis russo, e planos de construção de dez novas usinas nucleares fazem parte do projeto de orgulho nacional. Não ceder diante das dificuldades – pelo contrário – é mais uma maneira de unir o povo iraniano em torno da autoimagem messiânica que Ahmadinejad pretende construir para si.

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