Há muitas dificuldades em torno do processo de paz. Digo isso, porque já há movimentações claras buscando prejudicar a retomada do diálogo entre israelenses e palestinos, previsto para a semana que vem. Hezbollah, Hamas, Irã e o ministro das Relações Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, são os maiores interessados em atrapalhar o encontro que será realizado nos Estados Unidos. Aos poucos, todos esses atores começam a mostrar suas intenções.
Mantendo sua posição de defender a extinção do Estado de Israel, o Irã se pronunciou de forma contrária à retomada do processo. Como o presidente Ahmadinejad já percebeu que repetir o mantra de "varrer Israel do mapa" costuma lhe causar desgaste internacional desnecessário, a missão ficou por conta de Ramin Mehmanparast, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
"Não pode haver qualquer acordo enquanto os palestinos são expulsos de seu país ao mesmo tempo em que invasores de outros países vivem em seu lar nacional", disse. Para deixar ainda mais claro, a expressão "invasores de outros países" é usada pelo governo iraniano para se referir aos cerca de 6,5 milhões de judeus que constituem 80% da população de Israel (o restante é formada por árabes com cidadania israelense).
Ou seja, na prática, a república islâmica muda as palavras, mas continua a dizer o mesmo: para o Irã, só existe uma solução possível para o conflito entre palestinos e israelenses: o fim de Israel. "Varrer Israel do mapa" é somente a forma mais enfurecida desta posição.
Como o presidente Barack Obama e o Quarteto (EUA, UE, Rússia e Nações Unidas) estão à frente do encontro da semana que vem, nada melhor para reafirmar a postura iraniana do que se opor à iniciativa. Para completar, o discurso foi coordenado com os dois aliados iranianos que fazem fronteira com Israel.
Em Gaza, o primeiro-ministro do Hamas, Ismail Haniyeh, já declarou oficialmente que o povo palestino não tem nada a ganhar com a retomada do processo de paz. Não por acaso, as palavras do líder do grupo radical se seguem ao cancelamento de um encontro interno que pretendia buscar a reconciliação entre Hamas e Fatah. Como este último forma a base de sustentação da moderada Autoridade Palestina, posicionar-se de forma contrária ao diálogo é uma maneira também de não ratificar o poder decisório da AP sobre o rumo a ser tomado pelos palestinos.
Na medida em que busca reconhecimento como ator regional, o Hamas só tem a perder quando a maior parte dos palestinos acredita no processo de paz e entende que é o grupo moderado que deverá representar suas aspirações nacionais.
O Hezbollah seguiu uma linha parecida. A diferença em relação ao Hamas é o fato de a milícia xiita já participar das decisões internas libanesas de uma forma bem menos conturbada do que seus aliados em Gaza. O Hamas pretende ser amanhã um pouco mais do que o Hezbollah é hoje.
O líder do grupo xiita, Hassan Nasrallah, abriu o jogo e, em pronunciamento em seu canal de TV – a rede al-Manar –, pediu ajuda iraniana para armar o exército libanês. É uma forma criativa e um tanto inesperada de dar o troco nos EUA. Por conta da troca de tiros entre as forças regulares libanesas e israelenses, no último dia 3, o congresso americano suspendeu o envio de 100 milhões de dólares para equipamento do exército do Líbano.
Ao pedir ajuda ao Irã, o grupo devolve o problema para os EUA e ainda prejudica as pretensões estratégicas e de defesa americanas na região. Ou Washington retoma os planos de enviar ajuda financeira ao exército do Líbano ou o Irã é convocado para suprir com seu arsenal as carências das forças libanesas - que, até este momento, parte da opinião pública internacional supunha ser independente do Hezbollah.
Na verdade, a milícia xiita foi inteligente ao forçar a Casa Branca a escolher entre duas desagradáveis alternativas: a primeira, retomar a ajuda financeira e manter a dúvida quanto à participação do Hezbollah no exército libanês; ou a segunda, permitir que os iranianos se tornem um ator de fato ainda mais relevante no Líbano e cujas armas seriam posicionadas justamente na fronteira com Israel.
No caso do ministro das Relações Exteriores de Israel, ao mencionar não crer que o país deva prolongar o congelamento da construção de novos assentamentos na Cisjordânia, Avigdor Lieberman pensa apenas em si. Como conseguiu derrubar o partido trabalhista israelense da posição de terceira força política nacional, ele não quer recuar, na medida em que sabe precisar da coalizão religiosa para manter este governo e, mais precisamente, permanecer no cargo. O eventual sucesso de conversações de paz seguramente esvaziará o discurso e o poder de seu partido, o Israel Beiteinu.
Mantendo sua posição de defender a extinção do Estado de Israel, o Irã se pronunciou de forma contrária à retomada do processo. Como o presidente Ahmadinejad já percebeu que repetir o mantra de "varrer Israel do mapa" costuma lhe causar desgaste internacional desnecessário, a missão ficou por conta de Ramin Mehmanparast, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
"Não pode haver qualquer acordo enquanto os palestinos são expulsos de seu país ao mesmo tempo em que invasores de outros países vivem em seu lar nacional", disse. Para deixar ainda mais claro, a expressão "invasores de outros países" é usada pelo governo iraniano para se referir aos cerca de 6,5 milhões de judeus que constituem 80% da população de Israel (o restante é formada por árabes com cidadania israelense).
Ou seja, na prática, a república islâmica muda as palavras, mas continua a dizer o mesmo: para o Irã, só existe uma solução possível para o conflito entre palestinos e israelenses: o fim de Israel. "Varrer Israel do mapa" é somente a forma mais enfurecida desta posição.
Como o presidente Barack Obama e o Quarteto (EUA, UE, Rússia e Nações Unidas) estão à frente do encontro da semana que vem, nada melhor para reafirmar a postura iraniana do que se opor à iniciativa. Para completar, o discurso foi coordenado com os dois aliados iranianos que fazem fronteira com Israel.
Em Gaza, o primeiro-ministro do Hamas, Ismail Haniyeh, já declarou oficialmente que o povo palestino não tem nada a ganhar com a retomada do processo de paz. Não por acaso, as palavras do líder do grupo radical se seguem ao cancelamento de um encontro interno que pretendia buscar a reconciliação entre Hamas e Fatah. Como este último forma a base de sustentação da moderada Autoridade Palestina, posicionar-se de forma contrária ao diálogo é uma maneira também de não ratificar o poder decisório da AP sobre o rumo a ser tomado pelos palestinos.
Na medida em que busca reconhecimento como ator regional, o Hamas só tem a perder quando a maior parte dos palestinos acredita no processo de paz e entende que é o grupo moderado que deverá representar suas aspirações nacionais.
O Hezbollah seguiu uma linha parecida. A diferença em relação ao Hamas é o fato de a milícia xiita já participar das decisões internas libanesas de uma forma bem menos conturbada do que seus aliados em Gaza. O Hamas pretende ser amanhã um pouco mais do que o Hezbollah é hoje.
O líder do grupo xiita, Hassan Nasrallah, abriu o jogo e, em pronunciamento em seu canal de TV – a rede al-Manar –, pediu ajuda iraniana para armar o exército libanês. É uma forma criativa e um tanto inesperada de dar o troco nos EUA. Por conta da troca de tiros entre as forças regulares libanesas e israelenses, no último dia 3, o congresso americano suspendeu o envio de 100 milhões de dólares para equipamento do exército do Líbano.
Ao pedir ajuda ao Irã, o grupo devolve o problema para os EUA e ainda prejudica as pretensões estratégicas e de defesa americanas na região. Ou Washington retoma os planos de enviar ajuda financeira ao exército do Líbano ou o Irã é convocado para suprir com seu arsenal as carências das forças libanesas - que, até este momento, parte da opinião pública internacional supunha ser independente do Hezbollah.
Na verdade, a milícia xiita foi inteligente ao forçar a Casa Branca a escolher entre duas desagradáveis alternativas: a primeira, retomar a ajuda financeira e manter a dúvida quanto à participação do Hezbollah no exército libanês; ou a segunda, permitir que os iranianos se tornem um ator de fato ainda mais relevante no Líbano e cujas armas seriam posicionadas justamente na fronteira com Israel.
No caso do ministro das Relações Exteriores de Israel, ao mencionar não crer que o país deva prolongar o congelamento da construção de novos assentamentos na Cisjordânia, Avigdor Lieberman pensa apenas em si. Como conseguiu derrubar o partido trabalhista israelense da posição de terceira força política nacional, ele não quer recuar, na medida em que sabe precisar da coalizão religiosa para manter este governo e, mais precisamente, permanecer no cargo. O eventual sucesso de conversações de paz seguramente esvaziará o discurso e o poder de seu partido, o Israel Beiteinu.
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