A administração Obama tornou pública hoje uma de suas maiores conquistas. Após 20 meses de impasse, Washington anunciou ter conseguido convencer israelenses e palestinos a retomarem negociações diretas. Não se pode negar a magnitude de tal evento. Mas é preciso saber o que se pode esperar das reuniões previstas para o início de setembro, nos Estados Unidos.
Sem a menor dúvida, vai ser um show. E quando digo isso, refiro-me aos padrões estéticos, cobertura da imprensa, organização, pronunciamentos emocionados e todo o resto que Obama já mostrou saber fazer. Como escrevi pouco depois de sua vitória eleitoral, Obama é um presidente americano que supera o imaginário construído pelo cinema.
Porém, a grande dificuldade, como sempre, será conseguir resultados práticos. Israelenses e palestinos partem para os EUA com expectativas muito diferentes. A Autoridade Palestina aceitou o convite tendo como base nas declarações de princípios emitidas pela Quarteto – grupo formado por EUA, União Europeia, Rússia e as Nações Unidas – de que o encontro pretende discutir todas as questões pendentes para que se alcance um status final. Isso significa que as reuniões pretendem abordar pontos complexos, como a situação de Jerusalém, refugiados, assentamentos judaicos e as fronteiras definitivas de um Estado palestino.
O primeiro-ministro de Israel, entretanto, disse que irá participar da iniciativa, desde que não lhe sejam cobradas pré-condições. Benjamin Netanyahu já deixou claro não aceitar os termos usados no convite feito aos palestinos. Isso porque, se o fizesse, seria cobrado previamente pela coalizão que o mantém no cargo. Ele sabe como é arriscado para seu governo aceitar publicamente discutir tais questões. Acredito, no entanto, que, por mais que ele se empenhe em manter tal posição, possivelmente não terá como fugir dos temas mais espinhosos quando estiver reunido com a Autoridade Palestina e os mediadores.
Isso não quer dizer, de nenhuma maneira, que Bibi estará disposto a colocar todas as cartas na mesa. Até porque as lideranças palestinas que estarão nos EUA já não podem oferecer um acordo de paz pleno. A Autoridade Palestina dos dias de hoje tem capacidade bem mais limitada. Mesmo na eventualidade – muito improvável, por sinal. Diria impossível, para ser mais sincero – de que as partes consigam chegar a um consenso em todas as questões, a AP não tem como garantir que suas assinaturas seriam válidas em Gaza. Como se sabe, em 2007 o Hamas expulsou todos os membros da AP do território e, desde então, é o grupo radical quem dá as cartas de fato por lá.
Em seu projeto de busca por reconhecimento político internacional, o Hamas já emitiu um comunicado em que afirma que as negociações de paz com Israel servem como uma "tentativa de liquidar os direitos nacionais palestinos". Assinada por mais outros grupos radicais – alguns, inclusive, seculares –, a declaração procura minar os esforços moderados e, mais importante, enfraquecer a Autoridade Palestina.
Aliás, acredito que um resultado importante dos encontros nos EUA seria conseguir um esforço coletivo de israelenses, americanos e mediadores de fortalecimento da Autoridade Palestina e da economia regional. Seria importante que a Cisjordânia se transformasse num ponto de referência tecnológico, educacional e de desenvolvimento em todas as áreas. Assim, ficaria claro que a paz tem muito mais a oferecer do que a permanente busca por conflito. Esta seria a maior derrota para os radicais do Hamas, sem a menor dúvida.
Creio também que a iniciativa americana é válida. Mas é preciso encontrar soluções rápidas e práticas. Penso ser um tanto ilusório acreditar que as reuniões do início de setembro poderiam resolver todos os muitos e complexos aspectos do impasse entre israelenses e palestinos. Mas seria importante extrair medidas cujos resultados pudessem ser vistos num prazo mais imediato. Por exemplo, a garantia por parte de Netanyahu de estender o congelamento das construções de mais assentamentos na Cisjordânia; ou o compromisso por parte da Autoridade Palestina de luta contra os radicais e empenho nas negociações de paz.
Por fim, vale lembrar que a ampla conferência organizada por Washington interessa bastante à atual administração americana em seu projeto de reconciliação com os mundo muçulmano. Não por acaso, ela acontece em setembro, sucedendo a retirada no Iraque e a defesa do presidente Obama do projeto de constrição do centro islâmico nas proximidades dos escombros das Torres Gêmeas, em Nova Iorque.
Sem a menor dúvida, vai ser um show. E quando digo isso, refiro-me aos padrões estéticos, cobertura da imprensa, organização, pronunciamentos emocionados e todo o resto que Obama já mostrou saber fazer. Como escrevi pouco depois de sua vitória eleitoral, Obama é um presidente americano que supera o imaginário construído pelo cinema.
Porém, a grande dificuldade, como sempre, será conseguir resultados práticos. Israelenses e palestinos partem para os EUA com expectativas muito diferentes. A Autoridade Palestina aceitou o convite tendo como base nas declarações de princípios emitidas pela Quarteto – grupo formado por EUA, União Europeia, Rússia e as Nações Unidas – de que o encontro pretende discutir todas as questões pendentes para que se alcance um status final. Isso significa que as reuniões pretendem abordar pontos complexos, como a situação de Jerusalém, refugiados, assentamentos judaicos e as fronteiras definitivas de um Estado palestino.
O primeiro-ministro de Israel, entretanto, disse que irá participar da iniciativa, desde que não lhe sejam cobradas pré-condições. Benjamin Netanyahu já deixou claro não aceitar os termos usados no convite feito aos palestinos. Isso porque, se o fizesse, seria cobrado previamente pela coalizão que o mantém no cargo. Ele sabe como é arriscado para seu governo aceitar publicamente discutir tais questões. Acredito, no entanto, que, por mais que ele se empenhe em manter tal posição, possivelmente não terá como fugir dos temas mais espinhosos quando estiver reunido com a Autoridade Palestina e os mediadores.
Isso não quer dizer, de nenhuma maneira, que Bibi estará disposto a colocar todas as cartas na mesa. Até porque as lideranças palestinas que estarão nos EUA já não podem oferecer um acordo de paz pleno. A Autoridade Palestina dos dias de hoje tem capacidade bem mais limitada. Mesmo na eventualidade – muito improvável, por sinal. Diria impossível, para ser mais sincero – de que as partes consigam chegar a um consenso em todas as questões, a AP não tem como garantir que suas assinaturas seriam válidas em Gaza. Como se sabe, em 2007 o Hamas expulsou todos os membros da AP do território e, desde então, é o grupo radical quem dá as cartas de fato por lá.
Em seu projeto de busca por reconhecimento político internacional, o Hamas já emitiu um comunicado em que afirma que as negociações de paz com Israel servem como uma "tentativa de liquidar os direitos nacionais palestinos". Assinada por mais outros grupos radicais – alguns, inclusive, seculares –, a declaração procura minar os esforços moderados e, mais importante, enfraquecer a Autoridade Palestina.
Aliás, acredito que um resultado importante dos encontros nos EUA seria conseguir um esforço coletivo de israelenses, americanos e mediadores de fortalecimento da Autoridade Palestina e da economia regional. Seria importante que a Cisjordânia se transformasse num ponto de referência tecnológico, educacional e de desenvolvimento em todas as áreas. Assim, ficaria claro que a paz tem muito mais a oferecer do que a permanente busca por conflito. Esta seria a maior derrota para os radicais do Hamas, sem a menor dúvida.
Creio também que a iniciativa americana é válida. Mas é preciso encontrar soluções rápidas e práticas. Penso ser um tanto ilusório acreditar que as reuniões do início de setembro poderiam resolver todos os muitos e complexos aspectos do impasse entre israelenses e palestinos. Mas seria importante extrair medidas cujos resultados pudessem ser vistos num prazo mais imediato. Por exemplo, a garantia por parte de Netanyahu de estender o congelamento das construções de mais assentamentos na Cisjordânia; ou o compromisso por parte da Autoridade Palestina de luta contra os radicais e empenho nas negociações de paz.
Por fim, vale lembrar que a ampla conferência organizada por Washington interessa bastante à atual administração americana em seu projeto de reconciliação com os mundo muçulmano. Não por acaso, ela acontece em setembro, sucedendo a retirada no Iraque e a defesa do presidente Obama do projeto de constrição do centro islâmico nas proximidades dos escombros das Torres Gêmeas, em Nova Iorque.
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